Como a atenção plena pode ajudar as escolas e crianças?

mar. 16, 2018

As escolas no Brasil e no mundo enfrentam o desafio de irem além de seu papel na educação formal, desenvolvendo ao mesmo tempo crianças e jovens com atitudes e habilidades que promovam seu bem-estar e desenvolvimento como cidadãos, já que estão numa posição estratégica para isso. Assim, o aprendizado socioemocional de professores, colaboradores, pais e alunos tem se tornado fundamental e, nos últimos anos, mais e mais escolas estão se aventurando nessa busca.

Nesse contexto, os programas de mindfulness têm aparecido como uma das ferramentas baseadas em evidência científica para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais nas escolas, além de promoverem a atenção e a concentração e a melhora do desempenho escolar, contribuindo também para a formação em valores humanos básicos, como a empatia e compaixão.

Na sala de aula, as habilidades de atenção plena podem ser cultivadas de várias maneiras, e o ideal é que sejam implementadas em todo o contexto escolar, incluindo coordenadores, professores e todo o staff, além dos estudantes e suas famílias.


A seguir, apresento duas formas de levar mindfulness para o dia a dia das escolas

1 – Práticas formais de mindfulness em sala de aula: as principais práticas formais de atenção plena podem ser realizadas diariamente em sala de aula, com professores, staff e alunos. Essas práticas podem ser inseridas no início do período de aula, pela manhã, tarde ou noite, e em geral são curtas, de 5 a 10 minutos, produzindo grandes benefícios por estarem distribuídas ao longo de todo o ano. O objetivo dessas práticas é manter o foco de atenção em um objeto de meditação que permita ser conectado ao momento presente e retornar para ele quando a atenção é dividida. Dependendo do tipo de prática, este ponto de ancoragem pode ser a respiração, sensações corporais ou diferentes movimentos corporais. Nesse sentido, umas práticas mais simples e seguras de se implementar é a prática de 3 minutos (ou 3 passos) de mindfulness (clique aqui para ver em detalhes como é essa prática).

Práticas de compaixão e bondade amorosa também podem ser utilizadas, a medida que promovem empatia, conexão entre as pessoas, e emoções positivas. Algumas dessas práticas usam a visualização de imagens e/ou frases, que geram sentimentos de cuidado, bondade e felicidade. Alguns exemplos: “que eu esteja bem”, “que eu esteja em paz”, “que eu esteja feliz”, “que todos estejam bem”, “que todos estejam em paz, “que todos estejam felizes”.


2 – Práticas informais e jogos de atenção plena: a compreensão dos conceitos de mindfulness e compaixão pode ser facilitada por práticas informais de mindfulness (levar mindfulness para coisas do dia-a-dia) e jogos de atenção plena (o “baralho mindfulness”, por exemplo), que permitem entender alguns conceitos-chave de maneira prática e divertida.

As práticas informais são essenciais para que professores, crianças e adolescentes implementem os conceitos e atitudes subjacentes de atenção plena e compaixão em sua rotina.

Um exemplo de prática informal seria o professor convidar a classe para que escute, olhe, cheire, toque ou saboreie com plena consciência certo objeto (uma caneta, por exemplo) ou alimento (uma fruta ou outro alimento qualquer), bem como experimente a sensação de calor e do frio, ou de eventuais desconfortos que possam surgir. Estas atividades estão desenhadas para despertar os sentidos e favorecer a aquisição de uma maior conexão com realidade externa e com os estados internos da experiência (consciência corporal).


Os benefícios de se levar mindfulness e compaixão para dentro da escola são muito amplos: reduzir o estresse, aumentar o bem-estar; alcançar uma aprendizagem mais eficiente, melhorar as relações interpessoais, e enriquecer o modo de estar e agir na escola, desfrutando de toda sua potencialidade. Além disso, são benefícios de longo prazo, pois impactarão toda a vida futura da criança e do adolescente. Essa ideia é essencial, ainda mais, se tivermos consciência de que as crianças que estamos educando hoje serão as crianças que educam num amanhã não tão longínquo, podendo transmitir às próximas gerações todos esses benefícios.

No próximo post falaremos sobre como mindfulness pode ser aplicado nas organizações e mundo corporativo, até lá!



REFERÊNCIAS

Javier García-Campayo, Marcelo Demarzo & Marta Modrego Alarcón. Bienestar emocional y mindfulness en la educación. Madrid: Alianza Editorial, 2017.


PARA SABER MAIS

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.goamra.org (American Mindfulness Research Association, Estados Unidos, informações em inglês)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação “Mindfulness” na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

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