Como ter menos estresse praticando aceitação no dia a dia

nov. 05, 2018

Entre os conceitos relacionados a mindfulness, a ideia de aceitação tem a ver com a possibilidade de nos aproximarmos e compreendermos a realidade das coisas e dos fenômenos (internos e externos) como eles realmente são, ou seja, sem interferência de juízos prévios de valor. Seria tentar não adivinhar ou filtrar a realidade com as lentes do passado ou com base em nossas expectativas, que é bastante comum. Um exemplo é quando classificamos uma pessoa como “difícil” e mantemos essa “etiqueta” ao longo dos anos, mesmo que ela já tenha mudado ou nós mesmos já tenhamos outra perspectiva.

A partir da aceitação da realidade como ela realmente é, temos condições de tomar decisões mais conscientes, saindo do piloto automático e deixando de repetir padrões pouco adequados de funcionamento. Significa exatamente o contrário de resignação ou passividade, como pode ser confundida a palavra “aceitação”. Entenderemos melhor o conceito a partir de algumas partes do poema “A arte de ser feliz” de Cecília Meireles (veja o poema completo clicando aqui):


“…Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.

Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam o muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais…..
….Às vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz…”


Nas frases acima, Cecilia Meireles fala de olhar a realidade cotidiana como ela é, sem julgamentos ou juízos de valor, inclusive as “nuvens espessas”, que podemos correlacionar com o mal-estar ou estresse (pequenos ou grandes). Ao entendermos que a realidade por se apresentar de várias maneiras, e que muitas delas estão fora de nosso controle ou não corresponderão às nossas expectativas, aprendemos a conviver com tudo que se apresenta à “nossa janela”, e a possibilidade de sermos mais felizes
aumenta.

Isso também não significa passividade, porque ao aceitarmos a realidade que se apresenta, podemos tomar decisões mais realistas e sairmos dos automatismos. Sempre haverá livre-arbítrio, mas ele será mais efetivo se olharmos para a realidade das coisas ao invés de buscarmos que o mundo corresponda exatamente às nossas expectativas, muitas vezes irrealistas.

Como não precisaremos mais controlar nada (podemos, claro, fazer planos, mas não esperaremos que eles se realizem da maneira exata que planejamos) e sempre tomaremos decisões com base no que vai emergindo naturalmente, teremos uma menor sensação de estresse. É uma mudança radical de perspectiva, por isso exige treino diário.

Nos treinos de mindfulness praticamos a aceitação no “microcosmos” dos nossos próprios corpos, aproximando-nos das sensações como elas são e estão naquele momento, independentemente de serem agradáveis ou desagradáveis, sem a necessidade de mudar nada. Fazemos o mesmo com os pensamentos ou emoções que vão emergindo durante os exercícios, simplesmente aceitando que eles estão ali, pois fazem parte da minha experiência, incluindo as negativas. Ao olharmos para todos eles, entendemos melhor a nossa natureza e podemos tomar decisões mais conscientes e menos irrealistas e automáticas.

Vamos praticar?


Referência:
Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness. Palas Athena, 2015.

Para saber mais:

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness ePromoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação “Mindfulness” na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

 

Fonte – Uol


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