Mindfulness pode ajudar no medo de ir ao dentista ou médico

set. 26, 2019

Além dos benefícios gerais para a saúde, a prática regular de Mindfulness (atenção plena) pode ajudar a melhorar a ansiedade e o medo de ir ao dentista, assim como o medo de ir ao médico ou hospitais

Hoje eu respondo à interessante pergunta de um de nossos leitores: “mindfulness pode ajudar no medo de ir ao dentista?”. A ansiedade ou medo de ir ao dentista (e de maneira similar, de ir ao médico ou a hospitais) é relativamente comum, afetando em torno de 15-20% das pessoas.

Os sintomas podem variar desde uma sensação de desconforto quando chega perto da hora da consulta até uma preocupação excessiva e sem razão aparente; podendo chegar a casos extremos de “fobia”, gerando sentimento de terror ou pânico. Além disso, pessoas com esse tipo de medo têm piores indicadores de saúde, explicados pela própria condição que impede o cuidado continuado e adequado.

Apesar de não existirem estudos definitivos sobre esse tipo específico de medo, é muito provável que mindfulness (saiba o que é mindfulness) possa ajudar, pois sabidamente mindfulness é muito efetivo para quadros de ansiedade. Historicamente, a ansiedade foi um dos primeiros transtornos abordados pelos programas de mindfulness, mais especificamente pelo programa MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction), criado por Jon Kabat-Zinn nos idos de 1979.


Mas como mindfulness pode ajudar nessas situações?

Os estudos mais recentes mostram que os programas de mindfulness são claramente eficazes nos transtornos de ansiedade isolados, ou mesmo quando esses se apresentam com sintomas de depressão. Os resultados apontam também para a menor reatividade ao estresse cotidiano, redução da preocupação excessiva e melhora da qualidade do sono.

Aparentemente os benefícios ocorrem independentemente da intensidade dos sintomas e são provenientes de uma melhor regulação emocional, ou seja, as pessoas conseguem entender e lidar mais eficazmente com seus sentimentos; diferenciando ameaças reais de crenças e ideias equivocadas sobre a realidade.

A base para essas conquistas é o que chamamos de “descentramento” (decentering), que é a capacidade que os praticantes de mindfulness treinam e cultivam de não considerar as emoções e pensamentos como se fossem “fatos” ou “realidades”, e sim apenas “eventos mentais”.

Essa capacidade nos permite lidar melhor com os pensamentos, em especial com os negativos e automáticos, muito comuns na ansiedade, e é um fator-chave, pois uma porção considerável do mal-estar (medo de ir ao dentista por exemplo) é evitável, pois são produzidos pela maneira como encaramos a situação, ou seja, consequência de nossos pensamentos e interpretações mentais sobre a situação.

Esse tipo de sofrimento ou mal-estar é aquele produzido por “nós mesmos” (por nossa mente, na verdade) ao
pensarmos ou lutarmos de maneira irracional contra um fato (a necessidade de ir ao dentista ou ao médico, por
exemplo), e são evitáveis desde que tenhamos uma nova perspectiva sobre a realidade daquele fato.
Com a prática regular de mindfulness pode-se identificar mais facilmente esse tipo de sofrimento e, muitas vezes,
preveni-lo, diminui-lo ou mesmo eliminá-lo.

Vamos praticar?


Mande sua pergunta

Se você tem alguma dúvida ou curiosidade sobre mindfulness, atenção plena, ou neurociência do comportamento, por favor me escreva que terei prazer em abordar seu tema em textos futuros: demarzo@unifesp.br

Referências

Demarzo M, Garcia-Campayo J & Cebolla A. Mindfulness e Ciência. 1. ed. São Paulo: Editora Palas Athena, 2016. v. 1. 240 p .

 

Para Saber Mais

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.goamra.org (American Mindfulness Research Association, Estados Unidos, informações em inglês)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação “Mindfulness” na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

 

Fonte – Uol


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