Por que a respiração é tão importante para treinar a atenção plena?

jun. 27, 2019

Nas práticas de atenção plena (mindfulness), a respiração é fundamental por 2 aspectos: ser de fácil acesso (disponibilidade) e estar sempre no presente (evita que a mente se perca em pensamentos ou devaneios).

É por essa razão que é considerada um dos pontos preferidos de ancoragem na meditação em geral, e em mindfulness em especial.

Assim, a respiração é a “âncora” (ponto de apoio) da atenção por excelência (para que a mente fique menos à deriva). Há muitas razões para isso:


ESTÁ SEMPRE CONOSCO

Nem sempre os objetos externos estão disponíveis (uma imagem, uma vela, etc. – algumas meditações usam objetos externos como ponto de atenção ou “âncora”). A respiração sempre estará conosco, não precisamos fazer nada em especial para encontrá-la.


NÃO GERA “APEGO”

A respiração é neutra, não produz apego (ao agradável) e nem aversão (ao desagradável ou neutro), duas características habituais da mente associadas à percepção aumentada de estresse. Em algumas técnicas meditativas isso pode eventualmente ser estimulado se não tivermos cuidado, como por exemplo quando usamos objetos ou imagem de uma divindade ou mesmo o incenso.


ESTÁ SEMPRE MUDANDO

Considerando que com a prática regular de mindfulness poderemos permanecer muitas horas de nossa vida atentos a essa “âncora”, é importante que ela não seja imutável, pois poderia gerar automatismos e mais divagação mental. Não existem duas respirações iguais, já que há uma enorme quantidade de variações sutis na intensidade, velocidade, áreas em contato com o ar, nas características do ar (umidade e temperatura).

A respiração pode ser também um reflexo de nossas emoções, servindo como um termômetro ou barômetro do nosso estado emocional e mental.


ENTRE O VOLUNTÁRIO E O INVOLUNTÁRIO

É comum nos relacionarmos com a respiração forçando-a (quando fazemos exercício físico, por exemplo), ao passo que é pouco habitual apenas observá-la e não a modificar.

Assim, nossa relação com a respiração pode ser uma metáfora de nossa postura ou atitude frente à vida: podemos variar desde o extremo da aceitação (ou seja, observar a respiração) até o extremo da máxima intervenção (representada por seu manejo voluntário).


Dessa maneira, ao treinarmos apenas a observação curiosa da respiração em mindfulness, sem modificá-la, estamos na verdade treinando, além da atenção, uma outra atitude mental frente à vida, que podemos chamar de aceitação, no sentido de não nos apegarmos às nossas expectativas, fruto habitual de estresse e sofrimento no dia a dia.

É por isso, então, que durante as práticas de mindfulness não se deve manipular a respiração, somente observá-la. Com o passar do tempo, acabaremos mudando nossa relação com a respiração, sentindo-a como se fosse nosso “habitat” natural, como se “voltássemos para casa” ao meditar.

Vamos praticar?


Referência:

Demarzo & Garcia-Campayo. Manual Prático de Mindfulness: curiosidade e aceitação. Editora Palas Athena, 2015.


Para saber mais sobre mindfulness:

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação “Mindfulness” na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

Fonte: UOL

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