Como praticar a atenção plena durante uma reunião de trabalho?

jun. 13, 2018

Reuniões de avaliação e planejamento são parte fundamental do dia de qualquer empresa ou instituição. Mas apesar da reconhecida necessidade desses espaços de interação e decisão, muitas vezes também são fonte de estresse para líderes e colaboradores. Como já comentei num post anterior, passamos uma parte considerável do nosso tempo de vida no trabalho, e poder praticar a atenção plena nesse contexto é muito importante.

Então, como o mindfulness pode melhorar nossas reuniões de trabalho? E como podemos aproveitar as reuniões para praticar a atenção plena?

O que mais me fascina em mindfulness é a possibilidade de podermos levá-lo para qualquer atividade de nosso dia a dia, lembrando que essa possibilidade depende de nossa intenção, ou seja, é intencional e não surge automaticamente. Assim, a primeira dica é ter a intenção de estar mindful durante as reuniões. Isso parece banal, mas não é, porque nosso modo mental mais habitual é o de estar desatento e reativo frente às experiências. Então, uma pequena pausa antes de uma reunião pode nos ajudar a reforçar essa intenção.

Uma maneira de fazer essa pequena pausa é praticar brevemente mindfulness um pouco antes de entrar na reunião, como a prática dos 3 passos ou 3 minutos (veja aqui como fazer esse exercício). Muitas empresas que passam por treinamento em mindfulness incorporam esse exercício de maneira coletiva antes das reuniões de trabalho, ou seja, há um espaço de pausa “oficial”. Mas mesmo que não haja esse espaço, qualquer colaborador ou líder pode adotar facilmente esse exercício de maneira individual, reservando um tempo na agenda para isso (1 a 3 minutos são suficientes).

Essa pequena pausa (podemos chamar também de “check-in” interno) nos permite observar como estamos naquele momento, compreendendo melhor as nossas emoções e estado mental, prevenindo reações intempestivas ou desproporcionais. Um exemplo: se antes da reunião eu tive uma conversa difícil com um colega de trabalho ou familiar, e essa conversa alterou meu estado emocional (provocando raiva ou tristeza), é muito provável que eu leve esse estado emocional negativo para a reunião, muitas vezes sem perceber, o que pode gerar uma discussão desnecessária com outro colega de trabalho, o qual não tinha nada a ver com a conversa difícil que eu tive antes da reunião. Assim, fazer essa pequena pausa (“check-in”) antes de entrar na sala me permite perceber o estado de raiva ou tristeza, e regular melhor essa emoção.

Outra estratégia é também realizar essas pequenas pausas durante a reunião, pois, dependendo dos temas discutidos e da atitude dos colegas, é comum e previsto que apareçam emoções negativas. Então, ao invés de reagirmos no piloto automático frente a essas emoções, podemos fazer pequenas pausas antes de falarmos, por exemplo. Essas pequenas pausas podem ser simplesmente uma ou duas respirações mais profundas, ou “microespaços de silêncio” (poucos segundos são suficientes), nos quais podemos rapidamente tomar consciência de nosso estado emocional e responder de maneira mais sábia e menos reativa.

Uma última dica, mas não menos importante, é praticar a escuta mindful durante as reuniões. Eu já tratei desse tema num post anterior e sua aplicação no ambiente de trabalho, em especial nas reuniões, é de grande valia. A escuta mindful inclui as pausas que já comentei, mas vai um pouco além, pois inclui ouvir com atenção plena os nossos interlocutores (dando o tempo necessário para que se expressem plenamente), e também checar se o que “escutamos” (compreendemos) corresponde ao que a outra pessoa realmente quer comunicar. Podemos fazer isso concretamente, fazendo uma síntese do que a pessoa falou e pedindo para que ela confirme se era aquilo mesmo que queria dizer. Envolve também falarmos de maneira mindful, ou seja, com auto percepção, observando se estamos falando no tempo correto e de maneira assertiva dentro das intenções e objetivos daquela reunião.

Se conseguirmos incorporar essas dicas em nossas reuniões de trabalho, a tendência é que possamos melhorar as nossas relações interpessoais, aprimorar nossas habilidades relacionais e socioemocionais (comunicação empática, mediação de conflitos e formação de redes de suporte social), e influenciar positivamente o clima dentro das organizações, melhorando o desempenho no nível individual e organizacional. As pesquisas mais recentes têm comprovado todos esses benefícios.

Boa reunião com atenção plena!


REFERÊNCIA:

Darren J. Good e colegas. Contemplating Mindfulness at Work: An Integrative Review. Acessível em https://doi.org/10.1177/0149206315617003


PARA SABER MAIS SOBRE MINDFULNESS

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação “Mindfulness” na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

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